quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Muito barulho por nada

“Quem sabe, faz; quem não sabe, fala” — dizia meu primeiro patrão. “Quem conhece, conhece” — dizia meu sogro.
Sempre me lembro dessas duas frases, ditas por duas pessoas com quem muito aprendi, quando topo com gente que faz demasiado cartaz de si mesma, mas, quando precisa mostrar ou entregar o que divulga e promete, frustra essas expectativas e não corresponde aos reclames que faz. Promete-se uma tremenda explosão de arrasar quarteirão, mas o que se ouve é um quase insonoro traque. A montanha pariu um rato.
Conheci uma pessoa nada modesta, autoproclamadamente  empoderada e com orgulho nas alturas, além de muita empáfia, que vivia a gabar-se de suas origens e múltiplas capacidades e tarefas. “Puxa! Tudo isso?” — logo pensei. Tive depois a oportunidade de verificar um dos trabalhos dessa pessoa: fiquei um tanto frustrado, pois pensei que seria bem melhor do que aquilo. A julgar pela autopropaganda…
Não sou moralista nem censor do comportamento alheio — que, aliás, pouco me importa, desde que seus efeitos não me atinjam nem a terceiros. Já vai longe o tempo em que o poeta do Eclesiastes pregava: “Vaidade das vaidades, vaidade das vaidades, tudo é vaidade!” (Ecl 1, 2).
Também já não vivemos na época em que a vaidade (ou soberba, ou orgulho) era um dos sete pecados capitais, quando até letrados e sábios se policiavam para não deixar ver a mínima nesga de orgulho por sua erudição dos autores clássicos, da patrística e das Escrituras, não poucas vezes conquistada ao longo de noites em claro, sob a parca luz de lamparinas, debruçando-se sobre manuscritos carcomidos e semiapagados.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, como sabiamente poetou Camões. A cultura mudou-se, e o orgulho deixou de ser algo negativo. Muitas pessoas célebres são conhecidas por sua vaidade, por sua elevada autoestima, que são também elementos-chaves da cultura globalizada atual, tanto nas relações pessoais e de trabalho quanto na oferta e consumo de todo o tipo de produtos. A palavra "orgulho", com nova nuance, passou a ser usada nas mais variadas situações, sempre com valor positivo. Hoje, tem-se até orgulho de ter orgulho!
De minha parte, nada contra. Tenha-se orgulho à vontade. Não estou nem aí. Mas que isso seja, pelo menos, por motivos reais: que se tenha orgulho do serviço bem-feito, do trabalho bem-apresentado, da tarefa executada no prazo, do cliente satisfeito, das coisas em seus devidos lugares.
Se é para se gabar, que pelo menos seja por um bom motivo.

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