domingo, 13 de agosto de 2023

Tá liberado #1

Fui ensinado a não rir, não debochar, não mangar, não caçoar, não tirar sarro de características fisicas de outras pessoas. Apesar disso, debochei de colegas quando eu era criança e adolescente, e riram de mim também. Ninguém é perfeito, mas felizmente a gente cresce.
Porém, o que era um comportamento respeitoso ensinado por muitas famílias aos filhos é hoje uma exigência do senso comum para a convivência civilizada em nossa sociedade. Aliás, atualmente é preciso ter cuidado até quando se faz referências a características ou deficiências das pessoas para não ser visto como capacitista.
Mas parece que, como tudo na vida, isso depende... daquele de quem se trata.
Se a pessoa é um adversário político, afrouxam-se então as amarras e se pode debochar e tirar sarro à vontade de qualquer característica dele: orelhas, voz, sotaque, tamanho da pança ou do nariz, falta de partes do corpo, erros de gramática, cacoetes, preferência por certas palavras ou locuções...
Se está do outro lado do espectro político, está errado, logo tirar sarro dele...
Tá liberado, então.

Foguete indiano

(Foto: R. Satish Babu, AFP)

Na madrugada de 29 de maio de 2023 assisti ao lançamento de um foguete da Índia. Os indianos usaram-no para posicionar em órbita um satélite do sistema de navegação que estão construindo. Eles e os chineses estão preparando-se para não depender do GPS, que é dos Estados Unidos. Já por aqui...
Aqui já perdemos o foguete da história, assim como deixamos passar o metrô, o trem, o bonde, a carruagem e até o paquete. Sabotamos nossa indústria automotiva (que há muito é toda gringa), não conseguimos fabricar um chipe, e nossos computadores, telefones e até cafeteiras, aspiradores de pó e liquidificadores são feitos na China e aqui postos nas caixas para venda no varejo...
Sem falar em nossa escola, na qual os alunos passam 12 anos e da qual muitos saem sem entender o que leem nem escrever direito na língua que falam, além de deixar-se enredar na inflação do terraplanismo.
Mas está tudo joia! O Brasil continua craque em destruir seu meio ambiente, desperdiçar seus recursos naturais e esmagar o talento de seu povo.
Não criemos pânico. Para que investir em programas espaciais dispendiosos, se a China e a Índia, parceironas dos BRICS, podem lançar os nossos satélites?
Mas não daqui, pois nossa base de Alcântara agora é dos irmãos do North, que sabem usá-la melhor do que nós. Há mais de 20 anos deixamos que explodisse, matando toda a nossa equipe de pesquisadores de espaçonáutica. Há quem diga que foi sabotagem dos gringos malditos, mas isso já é conspiracionismo de mais, não acham?
Ao fim e ao cabo, não para de crescer o lucro da exportação de soja, minério e "proteína". Ao vencedor, as commodities!

P.S.: Talvez apareça alguém aqui me acusando de ter complexo de vira-latas. Qual! Vão tomar banho na soda! Esse papo de vira-latismo é desculpa de quem não aceita críticas ao país, pois acha que o Brasil é a oitava maravilha e vivemos no melhor dos mundos possíveis. Amar o Brasil é também reconhecer seus problemas.

sábado, 12 de agosto de 2023

Busologia #2

Hoje embarquei no ônibus circular universitário e havia só um lugar vago: era ao lado de uma estudante que manuseava o telefone celular.
Estava sentada de forma descontraída, não encostada na janela, com as pernas abertas, e ocupava mais da metade do banco.
Eu disse "licença!" e me sentei. Acho que ela nem me ouviu. Ocupei a parte disponível do banco e fiquei com parte da "poupança" para fora.
Entendi o que sentem as mulheres que se sentam no ônibus, metrô ou trem ao lado de um cara folgado com as pernas escanchadas.
Mulheres, sintam-se vingadas! 😁😂🤣😂

Busologia #1

Hoje eu finalmente percebi por que tanta gente se esforça e até se endivida para comprar um carro, uma motocicleta ou até mesmo uma bicicleta e fugir do transporte público: a trilha sonora que somos obrigados a ouvir nos ônibus às vezes dá engulhos.
Espero que, quando a universidade tiver sua estação de rádio, os motoristas do circular universitário sejam orientados a manter o rádio do ônibus sintonizado obrigatoriamente nela...
Com certeza, seja qual for, a programação da rádio universitária será bem mais agradável.

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Hecatombe

Se ocorrer mesmo a hecatombe climática que muitos cientistas e ambientalistas preveem, e a humanidade for mesmo extinta por causa disso, quem perecerá primeiro: os pobres ou os ricos?
Creio que os pobres morrerão primeiro, é claro e óbvio, de fome e sede.
Já os ricos viverão alguns instantes a mais: alucinados pela fome e iludidos pela cor de suas verdinhas, certamente tentarão comer dinheiro.

I.A.

Sempre gostei do sistema "pegue, pague e leve" dos supermercados e assemelhados. Não que eu seja contra os balconistas (já fui um) e atendentes das lojas, que são imprescindíveis quando se precisa de atendimento mais pessoal em relação a algum produto específico.
O sistema de balcão é ótimo numa padaria, quando se precisa de 10 pãezinhos e 1 litro de leite, ou num bar, ao se pedir uma cerveja ou rabo de galo. Gosto, porém, de percorrer as prateleiras ou estantes, escolher o produto, ir ao caixa, pagar e ir embora.
Mas é aflitivo entrar numa loja enorme de uma rede em um shopping center, cheia de produtos para o lar, casa e jardim, papelaria etc., e encontrar nela uma única funcionária, que não é vendedora nem caixa e está lá apenas para dar informações e ajudar os clientes a pagar as compras no sistema de autoatendimento: o cliente escolhe o produto, posiciona-o em frente ao leitor de código de barras, põe-no na sacola, escolhe a forma de pagamento, introduz ou encosta o cartão de crédito/débito ou o telefone celular, digita a senha, espera a impressão do comprovante e vai embora.
Os vários caixas da loja estavam vazios, sem vivalma. Quase uma loja-fantasma.
Eis aí em pleno funcionamento essa inteligência artificial de 500 anos chamada capitalismo.
Ela surgiu como parte do código-fonte de um sistema religioso, mas ganhou vida própria e está hoje acima das religiões, mas ao mesmo tempo ao lado, embaixo e dentro delas.
Serviu-se da escravidão (que não inventou, reconheçamos), mas ajudou a extingui-la quando percebeu que era o mais conveniente, pois escravos não são consumidores.
Aceitou dar direitos aos trabalhadores para impedi-los de simpatizar com o comunismo, mas as condições de trabalho pioraram e os direitos caíram por terra quando a ameaça vermelha se desfez no ar.
Agora os próprios empregos rareiam, assassinados pelo avanço tecnológico, enquanto os nerds e outros fanáticos por "tecnologia" idolatram bestamente gente como Jobs, Gates, Zuckerberg e Musk. 
O capitalismo é uma inteligência artificial aparentemente analógica, pois não vive (ainda) em sistemas informáticos: seu único fim é continuar existindo, e para isso ele precisa de hospedeiros, os seres humanos, que usam os recursos, as ferramentas físicas e ideológicas disponíveis, às quais o capitalismo se adapta constantemente. Toda a humanidade é hospedeira do capitalismo, mas apenas parte dela se beneficia disso, vivendo em regime de simbiose... pelo menos enquanto essa simbiose for necessária para o parasita.
Impõe-se uma questão: por que não sacrificar um pouco do lucro para criar mais postos de trabalho e, por conseguinte, mais consumidores? Não seria melhor se mais pessoas trabalhassem, em jornadas de trabalho mais curtas, com tempo para lazer, estudo... e consumo? Mas isso desagrada aos acionistas, beneficiados pela simbiose.
Sem renda não há consumo. Aonde chegaremos no ritmo atual?
Veremos no que dará quando o capitalismo, inteligência artificial analógica, tiver em mãos uma inteligência artificial computacional ilimitada... ou for absorvido por ela.
Será, pela última vez, a vida a imitar a arte.
A SkyNet está logo ali.

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Negacionismo científico?

Olhe, veja bem... 🤔😱😂🤣😂
Agora que o novo coronavírus já é bem conhecido, há várias vacinas disponíveis e a Covid-19 está sob controle... podemos menosprezar, criticar, xingar, detonar, atacar à vontade a pérfida ciência "ocidental" (ou "dos brancos") e os cientistas.
Afinal, esses cientistas arrogantes têm a pachorra de usar o método científico para dizer o que é e o que não é ciência.
Basta! A pandemia acabou-se, e com ela o reinado dos cientistas e divulgadores da ciência. As coisas já vão voltando ao normal.
Acaba de ser regulamentada a ozonioterapia, e o povo já começa a cancelar cientistas que ousam criticar práticas pseudocientíficas e "tradicionais".
Como se atrevem eles a dizer que é ineficaz a dieta de corte de carne, queima de gordura e ingestão de líquidos (ou seja, churrasco com cerveja) para emagrecimento?
O negacionismo está liberado, pois... mas só até a próxima pandemia. Quando ela vier, veremos o que fazer.

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

E o IBGE já sabe disso?

A geografia do Brasil foi alterada e não fomos avisados.

Os defensores da unidade brasileira saíram depressa a condenar o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, por supostos preconceito e ofensa ao Nordeste em sua última entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

Mas e o Norte e o Centro-Oeste? Também não teriam sido ofendidos por Zema? Aparentemente, essas regiões não mais existem: foram engolidas pelo Nordeste.

Os apressadinhos sempre se esquecem do Centro-Oeste e do Norte: para eles o Brasil é formado apenas por Sul, Sudeste… e Nordeste.

Mas… e o IBGE? Já está sabendo disso?