terça-feira, 26 de outubro de 2021

Produto de exportação

O Brasil não para de diversificar sua economia e seu leque de exportações.
Abro um livro gringo, em inglês, sobre turismo no Brasil, e topo nele com vários termos do português brasileiro ali citados e erradamente escritos, com acentos onde não os deveria haver, por exemplo.
Muitas pessoas escrevem TAMBAQUI ou TATU com acento no I ou U porque não dominam as normas de ortografia (aí não há acento gráfico, pois se trata de palavras oxítonas terminadas em I ou U, como AQUI, ALI, BATI, CAQUI, MURUCI, JURITI, PARTI, JACU, URUBU, ITU, PERU, GUABIRU...).
Sabemos a causa, a complexa situação que leva a tais erros de escrita.
Mas encontrar palavras nossas com grafia errada num livro em outra língua mostra que o mais novo produto de exportação brasileiro é o erro ortográfico.

domingo, 24 de outubro de 2021

Lollapalooza de velha

Não me importo com as crenças alheias. Religião é assunto pessoal, coisa própria de cada um, e ninguém deve intrometer-se nisso. Respeitem-se as pessoas e suas crenças e evitar-se-ão problemas. Cada macaco no seu galho, cada um no seu quadrado.
Foi o que pensei quando fiquei sabendo, hoje, que um conhecido humorista da TV foi criticado porque debochou da procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que ocorre anualmente em Belém do Pará há séculos, chamando-a de "Lollapalooza de velha".
Pensei também: "Esse cara está brincando com fogo, querendo ser cancelado". Não sou favorável a nenhum tipo de censura, mas acho que alguns humoristas batem pesado e deveriam conter um pouco a língua para evitar problemas.
Mas logo depois vi que o humorista em questão é Murilo Couto, que é paraense, logo tem lugar de fala nativo e cativo para criticar e mangar à vontade de coisas do Pará. Ele sabe do que fala e o que faz.
Tudo em casa, então! Nada que não se resolva civilizadamente, roendo umas pupunhas e tomando um cafezinho ou suco de bacuri com bolo-podre. Ou não?
Seja como for, não nos intrometamos nessa contenda, que é assunto interno, "interna corporis".
Sapo de fora não chia.
#ciriodenazare #murilocouto

Santarém, Pará, 24/10/2021.

México lindo!

Num programa americano (dublado) exibido na TV por assinatura, faz-se referência à cidade mexicana de San Luis Potosí, capital do estado de mesmo nome.
Nada de extraordinário. Normal, aliás, pois o México habita os sonhos e os pesadelos dos ianques: criminosos "made in USA" vivem fugindo para o vizinho do sul, enquanto os guardas de fronteira mantêm a forma correndo atrás de imigrantes ilegais — não necessariamente mexicanos — que cruzam a mesma fronteira no sentido oposto.
O que me chamou a atenção foi a pronúncia do nome mexicano na dublagem: em vez de pronunciar o nome San Luis Potosí com uma pronúncia próxima do castelhano ou à brasileira, o dublador pronunciou... à inglesa, como se fosse um nome anglófono. Saiu algo como SÉN LÚI POTÔUSSI. Inacreditável!
Simplesmente o dublador repetiu ou imitou a pronúncia do ator no filme original, sem nem mesmo atentar para o ridículo que há nisso.
Por quê? O que explica isso? Incultura? Falta de informação? Não sei o que dizer.
O problema não se dá apenas na leitura de palavras estrangeiras ou de nossa língua nas dublagens de filmes, pois as traduções também são sofríveis.
Reflexos de uma combinação de fatores de nossos tempos.

Santarém, Pará, 24/10/2021.

Apotegma #8

Evita as pessoas nocivas, principalmente aquelas que te fazem sentir um criminoso até em teus mais comezinhos atos — como o de respirar, por exemplo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Apotegma #7

Se quem vê cara não vê coração, quem vê diploma nem sempre vê aptidão.

Homo brasiliensis


Eu antes me espantava, mas hoje apenas lamento que tantas pessoas, inclusive com curso superior, estejam perdendo a capacidade de identificar metáforas, alegorias e outras figuras de linguagem e interpretem tudo ao pé da letra, ou seja, literalmente.
Já não se podem dizer coisas como “matando cachorro a grito”, “subindo pelas paredes”, “de vento em popa”, “fulano com fome vira bicho”, que logo alguém critica a violência contra os caninos, avisa do perigo de escalar muros, aponta a Era das Navegações como uma desgraça da humanidade, diz que é preconceito contra os animais etc.
Se alguém, para destacar as idiossincrasias do povo brasileiro, refere-se a ele como “Homo brasiliensis”, não demora muito vem um especialista acadêmico, com grau no dedo e doutorado na parede, a dizer que “assim não pode, assim não dá, assim não é possível, pois os brasileiros não são um grupo com característicos que o constituam uma espécie a parte da humanidade”…
Jura?
No ritmo em que vamos, arribaremos sem muito tardar ao fim do mundo… ou da metáfora!

Santarém (PA), 21/10/2021.

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Prêmio merecido

Algumas pessoas têm tamanha autoestima e se acham tão competentes naquilo que fazem, que acham natural e de direito criticar um prêmio por não terem sido indicadas a ele. Não coram nem ficam constrangidas! 😱 Haja troféus para tanta gente que se acha merecedora deles!
Parece que isso virou moda, portanto não estarei fora do senso comum se criticar o Nobel de Literatura por ainda não me ter premiado. O que estão esperando?
Aliás, também não aceito não ter sido ainda eleito para a Academia Brasileira de Letras. Garanto que não faria feio ao colaborar com Evanildo Bechara no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
Fico aguardando o telegrama. 😉 E não se esqueçam da minha Caloi… digo, daquela parte chamada pecúnia!

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Revisão Final

No Dia do Juízo Final, Armagedom, Ragnarok — ou seja lá que nome se lhe dê — as armas serão as letras do alfabeto, e dar-se-á a contenda entre aqueles que usam indiscriminadamente as iniciais maiúsculas e os que não as usam de jeito nenhum.

Os revisores de textos assistirão ao evento em camarote, comendo pipocas ou canapés e sorvendo uma geladinha. Conforme a língua em questão, cachaça, vodca, gim, uísque, bagaceira e outros espiritos casarão bem com a ocasião.

(Felizes os revisores árabes e judeus, que não têm esse problema...)

Ao fim e ao cabo, seja qual for o resultado... revisaremos tudo!

Qual é a mais...?

Um dia quente em 1987. Ou 1988. Entre 12h e 13h. Era a 8ª série (4º ano do ginasial) ou o 1º ano do colegial (ensino médio), não me lembro bem. Eu estudava à tarde; tinha chegado bem mais cedo à escola e esperava a abertura do portão.
Eu era o único ali à porta da escola. Após algum tempo, chegaram duas garotas, mais ou menos da minha idade, que eu conhecia de vista, pois estudavam ali também no mesmo turno. Não me lembro dos nomes delas, mas tínhamos colegas em comum. Eram bonitas, atraentes, como várias outras da escola e da vizinhança.
Elas se sentaram num banco do outro lado da avenida. Olhavam para mim e conversavam, riam. A piada parecia ser boa…
Uma delas se levantou e atravessou a avenida. Veio até mim.
— Oi! Você é o Júlio, né?
(Sabia meu nome! Inacreditável…)
— Sim, meu nome é Júlio — respondi meio surpreso e quase gaguejando.
— Então, Júlio, minha amiga e eu estávamos conversando e estamos com uma dúvida. Será que você pode nos ajudar?
— Sim, claro. Qual é a dúvida?
— A pergunta é a seguinte: De nós duas, qual você acha que é a mais bonita?
Fiquei pasmado. Boquiaberto. Instintivamente, olhei para ela e depois para a amiga. E olhei de novo para uma e para a outra. E de novo. Não sabia o que dizer. Fiquei sem voz.
Ela estourou em riso. E disse:
— Sabe, entre nós duas, nós achamos que o mais ridículo é você!
E saiu gargalhando para se juntar à colega, que, no outro lado da avenida, ria muito também.

Santarém, 25 de setembro de 2021.