terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Vermelho e amargo

 

(Foto: Shutterstock.)


Depois de toda a publicidade negativa dos últimos dias, além das piadas inevitáveis, talvez os apreciadores daquela bebida vermelha e amarga comecem a chamá-la pelo verdadeiro nome: BÍTER (do alemão Bitter). Será uma forma de evitar o estigma que começa a se colar em quem a bebe.
— Vou tomar uma cerveja! E você?
— Obrigado, mas já estou tomando um bíter com gelo...
#Campari não é a única marca de bíter, mas ocorre com Campari o mesmo que se dá com Cinzano (vermute tinto), Martini (vermute branco), Amarula (licor de marula), Underberg (fernet), São João da Barra (conhaque de alcatrão) e outras bebidas, além de Bombril (esponja de aço), Band-Aid (curativo), Gilette (lâmina descartável de barbear), Suggar (depurador de ar de cozinha), Q-Boa e Cândida (água sanitária)...
São muitos os casos de marcas cujos nomes se tornaram sinônimos dos próprios produtos, devido a seu pioneirismo ou qualidade reconhecida, mas isso tem também suas desvantagens.

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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

More than a feeling [Boston]

Um clássico de 1976: Boston, "More than a feeling". Os vocais de Bradley Delp são sensacionais, antológicos.
O trecho que vai dos 37" até 1'22", e se repete a partir de 2'35", é o ápice da canção. É de arrepiar!
Uma das coisas de que gosto neste vídeo do Boston é que os músicos, do vocalista ao baterista, parecem estar curtindo muito, desfrutando o momento, além de satisfeitos com o resultado do que estão fazendo. Isso para mim é bem visível.
É claro que outros artistas e grupos, em suas apresentações, sentem e aparentam o mesmo, mas este vídeo do Boston me chama a atenção também para isso.
Sem dúvida é um clássico do rock.






quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

E-sports

(Imagem: Bandai Namco.)

Numa realidade alternativa, os jogos eletrônicos ou "e-sports" são os mais populares em todo o mundo, estando presentes nas Olimpíadas e tendo como evento máximo a Copa do Mundo da FIESA (Fédération Internationale de E-Sports Association).
Nessa realidade, o jogador mais famoso de "e-sports", aclamado como Rei dos "E-Sports" e Atleta do Século, foi um brasileiro com apelido de Pelé.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Boca-livre


Chega de fascismo alimentar!
Deixem o povo pôr catchup na pizza, quebrar o espaguete antes de pô-lo na panela, combinar sushi com feijoada, fazer temaki de queijo com goiabada e esfihas doces ou de mortadela, pôr pimenta no sorvete e mirtilo na cachaça.
Deixem as pessoas usar quaisquer ingredientes à vontade, alterando receitas seculares, combinando-as e criando outras.
Deixem o pessoal adubar o hot dog com milho, repolho e batata-palha, e deixem os gringos rechear o pão de queijo com molho barbecue.
Comida também é cultura, e cultura se transforma, se difunde, se imita, se transfere, se herda, se admira ou se repele, se perde e se (re)cria... Cultura não tem dono.
E, por favor, não me olhem torto quando me virem tomando açaí com granola e banana!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Fantasias canceladas

Clóvis Bornay com uma de suas célebres e inigualáveis fantasias. (Foto: Reprodução do Gay Blog.)

Homens que se vestem de mulher no Carnaval estão sendo criticados e "cancelados". Diz-se que tais fantasias sao ofensivas a travestis.
Hmmmm... Aham... Sei.
Considerando-se a condição das odaliscas dos haréns do Império Otomano, creio que fantasiar-se de odalisca também não seja de bom tom — viu, @CarlaPerezCPX? Nem de gueixa. Ou de bruxa. Ou de chinesa da dinastia Song.
Certo estava Clóvis Bornay (1916-2005), que todos os anos vencia concursos com fantasias exuberantes com nomes do tipo "Sonho do Pavão Misterioso numa Noite de Verão na Ilha do Paraíso", que não faziam referência a nada conhecido e não podiam ser acusadas de apropriação cultural ou ofensa a grupos minoritários.
Bom, talvez fossem ofensivas às aves que perdiam suas penas para essas fantasias. Mas ninguém é perfeito...
O sonho não acabou, mas parece que a fantasia sim.
Lamento pelos brincantes, foliões, curtidores, carnavalescos e todos os que lotam os salões ou vão atrás do trio elétrico. Logo, fantasiar-se do que quer que seja não lhes pertencerá mais.

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domingo, 19 de fevereiro de 2023

A ponta feia da Dutra

Há alguns dias, alguém disse no Twitter, comparando os folguedos de Carnaval no Rio de Janeiro e em São Paulo, que "o Rio tem cultura de Carnaval, São Paulo tem apropriação cultural". Aliás, é uma droga que o estado e sua capital tenham o mesmo nome, pois nunca se sabe se os caras se referem a um ou à outra, e talvez nem eles mesmos saibam ou causem confusão de propósito. Fingem-se de sonsos.
Descobri ali no Twitter por que não gosto de Carnaval: sou paulistano e não vejo o Carnaval como algo típico da cidade de São Paulo, por isso nunca gostei dele. Foi apropriado culturalmente, logo não é nosso. Taí. Valeu!
(Bom... Eu desfilei num bloquinho ou bloco do meu bairro em 1991; mas, em minha defesa, foi porque eu e alguns colegas estávamos paquerando umas garotas que desfilaram também. Não deu em nada. Fiquei a ver navios. Só perdi meu tempo e me cansei. Não digo que me arrependi, pois foi uma experiência interessante, que não mais repeti nem o pretendo fazer.)
Mas isso é apenas uma opinião minha, que alguns tomarão por tosca. Tô nem aí. Não sou contra o Carnaval, apenas não o pulo/brinco/curto/desfruto (escolham o verbo que quiserem conforme seus locais de origem).
Agora, na Folha de S. Paulo, um cavalheiro se refere a São Paulo como "a ponta feia da Dutra"; para completar, comete preconceito linguístico ao criticar o uso do termo "bloquinho", usual em SP, dizendo que ele não se pode aplicar ou usar no RJ, pois ali não há bloquinhos, há apenas blocos.
O mais espantoso é que um Marcos Bagno não aparece numa hora como esta para dar um pito nos glossofóbicos de plantão. Parece que, se é contra SP, preconceitos linguísticos e outros estão liberados: se é a principal, a mais importante, a mais rica cidade do Brasil, pode-se malhar à vontade! Tá liberado!
Mas experimente algum paulista dizer que em São Paulo não existem biscoitos, apenas bolachas...


https://f5.folha.uol.com.br/celebridades/carnaval/2023/02/bloquinhos-nao-passarao.shtml

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sábado, 18 de fevereiro de 2023

Etenílson comenta: #PaollaOliveira

 

(Foto: Paolla Oliveira/Instagram.)


Tenho um amigo alienígena chamado Etenílson, vindo do planeta Xistê. Etenílson é apaixonado pela cultura terráquea, que ele estuda todos os dias: ele lê jornais, vê TV, ouve rádio, sem falar nos blogues e redes sociais que acompanha com interesse.
Regularmente nos encontramos para tomar cerveja romulana e conversar sobre os assuntos do momento, e nessas ocasiões ele me pede impressões sobre coisas que não entende.
Ontem, entre uma e outra golada da deliciosa cerveja azul proibida em todos os planetas da Federação, ele me pediu opinião sobre a atriz Paolla Oliveira.
— Que tem ela? — perguntei.
— Estão comentando negativamente sobre o formato do corpo dela. Por que isso? — disse Etenílson.
— No planeta Xistê as pessoas não reparam nos corpos das outras pessoas?
— Ora, é claro que reparam. Lá, como cá, ninguém é de ferro, e todo mundo repara, principalmente quando se vê na rua uma xisteense com o seio belíssimo, grande, firme.
— Você quis dizer: "seios belíssimos, grandes, firmes".
— Não, eu disse seio mesmo. As xisteenses têm apenas um seio. Mas em compensação têm duas...
— Mas você ia dizendo que lá também os xisteenses falam uns dos outros...
— Não! — respondeu enfaticamente Etenílson. — As pessoas olham, é claro, observam tudo, reparam, têm suas impressões, tiram suas conclusões ou tecem suas opiniões, mas ninguém critica alguém por causa da aparência. O xisteense pode até não achar algo bonito, mas quando o assunto não é de sua conta, prefere abster-se de comentar.
— Seu povo é sábio — disse eu. — Com certeza tem milênios de evolução a mais que nós.
— Recentemente muitos terráqueos fizeram o mesmo com a cantora Madonna — continuou Etenílson. — Disseram que está velha e feia. Mas todos envelhecem, não é? E não dizem que beleza é algo relativo? E a aparência de Madonna diz respeito apenas a ela. Por que essa celeuma toda?
— Você está indo bem! Já diz até "celeuma"...
— Acho que ainda ficarei na Terra por um bom tempo. Muitas coisas que vocês terrestres fazem eu ainda não entendo.
— Amigo Etenílson, muita coisa aqui da Terra eu também não entendo...
 

sábado, 11 de fevereiro de 2023

A alegria do gol

Pelé comemorava seus muitos gols com o peculiar soco no ar, que se tornou um registro seu inconfundível e imitado por outros goleadores. Mas ele não foi o único a deixar sua marca ao comemorar um tento.
Nos anos 1970, o atacante Caio Cambalhota, irmão dos também craques Luisinho Tombo e César Maluco, ao fazer um gol, comemorava dando cambalhotas. Fez sucesso e foi campeão no Botafogo, no Flamengo e no América do RJ.
Na mesma época, outro atacante ficou famoso ao comemorar seus gols: Mickey, herói do Fluminense na conquista da Taça de Prata de 1970, comemorava levantando os braços e fazendo V com os dedos, o que o deixou conhecido como um homem de "Paz e Amor".
Josimar, lateral do Botafogo, jogando pelo Brasil marcou dois golaços na Copa do Mundo de 1986 (contra Irlanda do Norte e Polônia) e contagiou a torcida ao comemorar sambando e esbanjando alegria, o que inspirou a criação da revista esportiva norueguesa "Josimar Fotball".
Hoje leio que o jogador Nathan Cachorrão, do Fluminense do Piauí, faz jus ao nome: comemora seus gols imitando um cão a urinar na bandeirinha de escanteio...
Aliás, Cachorrão parece estar querendo inscrever seu nome no rol da história dos catimbeiros e causadores de confusão dentro de campo, como os célebres André Catimba e Almir Pernambucaninho: recentemente, Nathan lambeu o nariz de um adversário e recebeu um soco dele, o que causou a expulsão do lambido.
Pois é... Quem disse que o futebol não evolui? Suas peculiaridades e dinamismo, sua capacidade de revelar as facetas do ser humano explicam por que é o esporte mais popular do mundo.

https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-noticias/2023/02/10/ex-inter-que-lambeu-nariz-de-rival-comemora-gols-imitando-um-cao-urinando.htm

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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Ladrão por ladrão…

 

(Imagem: Internet.)

Uma das personagens mais infames e execradas da história da Amazônia brasileira foi Sir Henry Wickham (1846-1928), um faz-tudo inglês sobre o qual o jornalista Joe Jackson escreveu um livro, publicado no Brasil com o sugestivo título de O Ladrão no Fim do Mundo (Objetiva, 2011).
Ladrão? Sim, senhoras e senhores. Ladrão. Mas também biopirata, contrabandista, vagabundo, herói do Império… a depender do ponto de vista.
“‘Que foi que ele roubou? Que foi que ele fez?’ Os brotos responderam todos de uma só vez…”
Não, não, não, não. O malandro do Wickham não roubou um coração nem uma joia pendurada num cordão; seu roubo foi de muito maior monta: ele contrabandeou para a Inglaterra sementes de seringueira (Hevea brasiliensis), que foram cultivadas e melhoradas nos laboratórios botânicos de Sua Majestade.
Em sua perambulação pelo mundo, Wickham chegou à cidade paraense de Santarém em 1871, onde morou por alguns anos, tentando cultivar seringueiras. Encontrou apoio na comunidade de norte-americanos, que era numerosa e importante na região. Com certeza ele se sentiu em casa…
Muita gente não sabe que os estadunidenses confederados que emigraram para o Brasil após a derrota na Guerra Civil Americana (1861-1865) não se estabeleceram apenas no interior de São Paulo, onde seus descendentes ainda hoje fazem Festas Confederadas, com trajes e comidas da época, e hasteiam bandeiras da Dixieland; muitos americanos se fixaram em outras partes do País, como em Santarém, no Pará. Algumas famílias e indivíduos ficaram pouco tempo em Santarém e retornaram aos Estados Unidos, mas várias famílias americanas se estabeleceram definitivamente na região Oeste do Pará, deixando seus sobrenomes na antroponímia local, e parte de seus descendentes paraenses ainda se orgulha de sua origem confederada.
Mas voltemos a Henry Wickham. Em 1876, possivelmente com a ajuda de gente da região, Wickham juntou, empacotou e acondicionou cuidadosamente em cestos cerca de 70 mil sementes de seringueira, enganou os agentes da fiscalização em Belém do Pará e levou as sementes para a Inglaterra. As mudas conseguidas a partir dessas sementes foram plantadas em possessões britânicas no Sudeste Asiático, e essas seringueiras de além-mar, sem as pragas e outros empecilhos naturais amazônicos, adaptaram-se muito bem lá, produziram muito e causaram grande impacto no mercado internacional de látex. Era o fim do monopólio sul-americano da borracha, e dos efeitos dessa débâcle a Amazônia brasileira demorou muito a se recuperar – se é que se recuperou…
Anos depois, sua contribuição para o Império Britânico seria, enfim, reconhecida, e graças a isso Wickham seria armado cavaleiro de Sua Majestade. De vagabundo a gentleman, de biopirata a Sir!
Mas este artiguinho não se acaba aqui. A história humana é complicada, a brasileira é ainda mais, e as coisas nunca são tão simples como parecem… Passemos da borracha para o café.
Ainda me lembro das aulas de história do antigo ginásio. Aprendi então que o cultivo do café foi introduzido no Brasil, mais precisamente na então província do Grão-Pará, por Francisco de Melo Palheta (1670-1750), militar luso-brasileiro nascido em Belém. Palheta, numa missão para restabelecer a fronteira com a Guiana Francesa, foi até Caiena, onde conseguiu, clandestinamente, sementes e mudas de cafeeiro, que ele plantou e cultivou em suas terras na cidade paraense de Vigia.
Segundo consta, as sementes e mudas foram um presente da esposa do governador de Caiena… Qual terá sido a ligação entre Palheta e a esposa do governador? Não o sei, apenas suponho. Já nos dias atuais não adiantaria esconder o affair, pois uma hora ou outra ficaríamos sabendo de tudo através da imprensa de fofocas.
O cultivo do café era assunto de Estado na França, na Holanda e na Inglaterra, que exerciam grande controle de suas colônias para evitar o contrabando de suas sementes e mudas para os concorrentes. Mas os franceses não esperavam que a esposa do governador de Caiena fosse generosa além da conta com o enviado da Coroa Portuguesa, não menos ladrão de “commodities” do que outros antes e depois dele, incluindo-se na longa lista nosso conhecido Wickham.
O resto é história. A cultura do café espalhou-se pelo País, e o “ouro negro” dominou nossa economia até o século XX. No Império e na República, o Brasil ficou sob o domínio do Rei Café por muito tempo.
Pois é isto: ora roubando aqui, ora sendo roubado ali, assim também se fez a história do Brasil.
Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão.

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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Bênçãos ou benções?

Por mais incrível que possa parecer, ambas as formas são corretas.
O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) registra as formas BÊNÇÃO (paroxítona) e BENÇÃO (oxítona) — observe-se o acento circunflexo a marcar a sílaba tônica da primeira forma.
O plural de BÊNÇÃO é BÊNÇÃOS, enquanto o plural de BENÇÃO é BENÇÕES.
Portanto, ainda que BENÇÃO e BENÇÕES sejam pouco usadas e pareçam formas estranhas, são tão corretas quanto as mais usadas.
Por causas diversas, muitas palavras de nossa língua têm formas duplas ou até triplas, todas atestadas em textos de autores de várias épocas e registradas em dicionários e gramáticas.
O mais adequado é preferir a forma corrente e mais usada, mas sempre há quem resgate, propositadamente ou por acidente — sem querer querendo! (ou apenas sem querer mesmo) —, uma forma variante pouco usada ou quase esquecida, iniciando involuntariamente discussões inócuas sobre sua correção e adequação.
Consultem-se sempre dicionários e vocabulários — se possível, mais de um.

ADENDO: Consultei as versões eletrônicas, disponíveis na Internet, dos dicionários portugueses Priberam e Porto e dos brasileiros Michaelis e Caldas Aulete (não tive acesso ao Houaiss nem ao Aurélio). Apenas o Aulete (obra de origem portuguesa, depois adaptada e muito ampliada no Brasil) corrobora o VOLP e registra a variante BENÇÃO, cuja entrada reproduzo abaixo:

benção
s.f. || forma antiga e popular de proferir bênção. Cp. bênção. F. lat. Benedictio, onis.

A forma BENÇÃO é, pois, no mínimo um arcaísmo, mas daqueles que ainda resistem na fala popular de certas regiões do País; daí o sabor regional e do "tempo do rei" que ainda conserva em nossos ouvidos. Quem nunca recebeu a BENÇÃO de uma pessoa mais velha?
E parece que, em contextos familiares, foi substituída por BENÇA, ficando a impressão de que nos meios populares se vê BENÇÃO como forma mais polida e solene.
Uma explicação para a sobrevivência dessa forma talvez seja sua analogia com os substantivos terminados em -ÃO, quase todos oxítonos. Exceções paroxítonas como ACÓRDÃO e ÓRGÃO são raríssimas; a forma paroxítona ZÂNGÃO foi há muito tempo posta de lado pela oxítona ZANGÃO, também correta.
Assim, mesmo que a forma usada na língua culta ou padrão seja BÊNÇÃO, o semiarcaísmo BENÇÃO ainda nos fará companhia por algum tempo, emergindo vez ou outra até sumir por completo — se é que sumirá algum dia. Como disse Câmara Cascudo: "O povo conhece seu vocabulário".
Critiquem-se pessoas, mas respeitem-se os fatos linguísticos.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Biscoito ou bolacha?

Apenas bem recentemente aprendi o significado de BISCOITO, BISCOITEIRO, PEDIR BISCOITO etc. no jargão das redes sociais e Internet. Aprendi também a identificar biscoiteiros; ja conheço um monte deles, entre anônimos e celebridades.
Mas descobri que não gosto de biscoiteiros... mesmo que se apresentem como bolacheiros. 🤔

Não vos arrependais!

NÃO VOS ARREPENDAIS!
Diz a sabedoria popular brasileira: “Na vida a pessoa deve arrepender-se apenas do que não fez”.
Qual! Sempre que ouço esse clichê, lembro-me de Hitler, Mussolini, Stálin, Franco, Pol Pot, Idi Amin Dadá, Stroessner, Pinochet, Pai e Filho Doc e outros facínoras que, com toda a certeza, morreram sem arrependimento por seus crimes, convictos de que tinham feito a coisa certa.
Aparentemente, para os defensores desse estilo de vida sem reflexão ou arrependimentos, não importa se aquilo que se fez ou se deixou de fazer é/foi bom ou mau, se beneficiou ou prejudicou outras pessoas. "Deu vontade? Faça-o!"
Já para mim, ninguém pode fazer tudo o que quer; não reconhecer os erros cometidos é uma boçalidade, e a ideia ou filosofia de que ninguém deve arrepender-se do que fez errado é uma boçalidade ainda maior.
O reconhecimento dos próprios erros é, a meu ver, um passo importante para o crescimento moral do indivíduo. Errar é humano – todos sabemos disso, porém o egotismo sob o qual vivemos insiste, a todo momento, que nos julguemos sempre certos, mesmo quando estamos redondamente errados.
Mas talvez seja esse o segredo de tanta gente que vive feliz da vida, desencanada de tudo, cantando e andando para o que faz ou deixa de fazer – errado ou não, pois… quem está julgando? (O ego deles é que não está.)
Estaria eu, então, generalizando minha própria experiência, minhas próprias concepções da vida?
É que me lembro de todas as coisas erradas que fiz e disse – e arrependo-me de cada uma delas…

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Muito barulho por nada

“Quem sabe, faz; quem não sabe, fala” — dizia meu primeiro patrão. “Quem conhece, conhece” — dizia meu sogro.
Sempre me lembro dessas duas frases, ditas por duas pessoas com quem muito aprendi, quando topo com gente que faz demasiado cartaz de si mesma, mas, quando precisa mostrar ou entregar o que divulga e promete, frustra essas expectativas e não corresponde aos reclames que faz. Promete-se uma tremenda explosão de arrasar quarteirão, mas o que se ouve é um quase insonoro traque. A montanha pariu um rato.
Conheci uma pessoa nada modesta, autoproclamadamente  empoderada e com orgulho nas alturas, além de muita empáfia, que vivia a gabar-se de suas origens e múltiplas capacidades e tarefas. “Puxa! Tudo isso?” — logo pensei. Tive depois a oportunidade de verificar um dos trabalhos dessa pessoa: fiquei um tanto frustrado, pois pensei que seria bem melhor do que aquilo. A julgar pela autopropaganda…
Não sou moralista nem censor do comportamento alheio — que, aliás, pouco me importa, desde que seus efeitos não me atinjam nem a terceiros. Já vai longe o tempo em que o poeta do Eclesiastes pregava: “Vaidade das vaidades, vaidade das vaidades, tudo é vaidade!” (Ecl 1, 2).
Também já não vivemos na época em que a vaidade (ou soberba, ou orgulho) era um dos sete pecados capitais, quando até letrados e sábios se policiavam para não deixar ver a mínima nesga de orgulho por sua erudição dos autores clássicos, da patrística e das Escrituras, não poucas vezes conquistada ao longo de noites em claro, sob a parca luz de lamparinas, debruçando-se sobre manuscritos carcomidos e semiapagados.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, como sabiamente poetou Camões. A cultura mudou-se, e o orgulho deixou de ser algo negativo. Muitas pessoas célebres são conhecidas por sua vaidade, por sua elevada autoestima, que são também elementos-chaves da cultura globalizada atual, tanto nas relações pessoais e de trabalho quanto na oferta e consumo de todo o tipo de produtos. A palavra "orgulho", com nova nuance, passou a ser usada nas mais variadas situações, sempre com valor positivo. Hoje, tem-se até orgulho de ter orgulho!
De minha parte, nada contra. Tenha-se orgulho à vontade. Não estou nem aí. Mas que isso seja, pelo menos, por motivos reais: que se tenha orgulho do serviço bem-feito, do trabalho bem-apresentado, da tarefa executada no prazo, do cliente satisfeito, das coisas em seus devidos lugares.
Se é para se gabar, que pelo menos seja por um bom motivo.