quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

E os gregos falavam inglês...

Não me canso de ser surpreendido pela falta de cultura geral que campeia na televisão brasileira. Nem a TV paga escapa!

Assistindo no canal History2 a um documentário sobre as Guerras Médicas (ocorridas no século V a.C. entre gregos e persas, estes conhecidos também como medas ou medos), vejo ser contada a famosa façanha do soldado grego que, em 490 a.C., correu mais de 40 quilômetros, do campo de batalha em Maratona até Atenas, para informar que os gregos haviam vencido aquela importante batalha.

Ao chegar a Atenas, gritou “Vitória!”… e caiu morto.

É fato conhecidíssimo; deu origem à prova olímpica moderna chamada Maratona.

Mas a novidade é que o programa do History2 mostra, para espanto geral, que os gregos daquela época não falavam grego, mas INGLÊS.

Por quê?

Porque o dublador de um dos historiadores entrevistados, ao pronunciar a palavra dita pelo soldado, disse NÁIKE!

Ora, mas esta é a pronúncia do inglês Nike, nome de famosa marca de produtos esportivos. A palavra inglesa veio da palavra grega Νίκη (transliterada modernamente em caracteres latinos como Níkē). A pronúncia grega era ['nike:], com acento tônico no [i] e a vogal [e] alongada.

Era o nome da deusa grega Nice (chamada Victoria pelos romanos), divindade relacionada à vitória, força e velocidade. Os romanos, quando usavam o nome grego da deusa, grafavam a palavra como Nice – assim mesmo, com C – e pronunciavam à maneira grega; a grafia romana é, portanto, a forma de origem do nome feminino Nice no português e noutras línguas modernas europeias, com pronúncias variadas. Já nossa palavra vitória – substantivo comum e também nome próprio – veio do nome latino, obviamente.

“Vitória de Samotrácia”, Museu do Louvre, Paris, França.
Foto de Adrian Pingstone. Fonte: Wikipedia.
O nome Vitória designa também as estátuas que representam essa divindade greco-latina, das quais uma das mais conhecidas e admiradas é a Vitória de Samotrácia (cerca de 200 a.C.), atualmente no Museu do Louvre, Paris, França. A figura feminina presente na Taça Jules Rimet, dada ao campeão mundial de futebol desde 1930 até 1970, também era uma representação da deusa Vitória ou Nice.

Que os falantes de inglês pronunciem Νίκη como NÁIKE é problema deles; mas pronunciarmos assim como se fossem os gregos a falar é uma tolice. Ou se diz simplesmente vitória, em português (traduzindo-se o termo grego), ou se pronuncia a palavra grega à maneira grega: NÍKE.

O que não é aceitável é sair por aí pensando que todas e quaisquer palavras de outras línguas se pronunciam como se fossem palavras inglesas.

Uma sugestão: Se você não sabe como se pronuncia uma palavra estrangeira, seja natural e pronuncie-a como se fosse palavra portuguesa ou o mais próximo disso; não há demérito nenhum em assim proceder. Ninguém é obrigado a saber palavras de outras línguas.

Mas não leia, não pronuncie palavras espanholas, francesas, italianas, gregas etc. como se fossem inglesas. Isso pega mal pelo menos para mim...

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