quarta-feira, 6 de março de 2024

Ah, a riqueza da periferia...

Já decidi: na minha próxima encarnação quero nascer RICO! (RICA também serve. Ou RIQUE.) Não quero, porém, nascer rico nos EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Áustria, Japão, Coreia do Sul, Canadá, Suécia… Não! Nada disso! Quero nascer rico no Brasil. É muito melhor.

Mas também não quero nascer numa família rica de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal… Os ricos desses lugares têm muitas preocupações e chateações: são o tempo todo chamados a responder sobre a responsabilidade social de sua riqueza, precisam expor suas medidas de ESG (está na moda), todo o País tem os olhos votados para eles. São os que mais aparecem nas colunas sociais e políticas. A vida deles é muito estressante. Sem falar no fato de que a burguesia dos grandes centros brasileiros recebe a culpa de todas as mazelas nacionais, mesmo daquelas das quais ela não tem culpa nenhuma.

Quero nascer rico num estado periférico e “pobre” do Brasil. Não citarei nomes, mas todos sabem quais são eles. É muito mais agradável e bem menos complicado ser rico nesses lugares.

Imaginem só: além de todas as benesses da riqueza e do poder, inclusive o acesso aos melhores cargos, eletivos ou não, os ricos e poderosos dos estados “pobres” não precisam preocupar-se com tomar decisões de impacto nacional, além de que sempre podem pôr a culpa da miséria, do atraso e do subdesenvolvimento local na ingerência do Governo Federal e na exploração por parte da burguesia de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal… e até dos falidos Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Coitado do Espírito Santo, que por ser do Sudeste é levado de roldão também.

Não importa se as famílias ricas desses lugares "pobres" se alternam, há várias gerações, no governo das “províncias”; nunca é delas a culpa do péssimo transporte coletivo, da saúde precária e do esgoto que corre a céu aberto pelas ruas, lançado de casas ricas ou pobres. E, sempre que é convocado, o nacionalismo regional, também conhecido como bairrismo, garante o apoio do povão local à sua classe dirigente contra os exploradores de fora, de modo que qualquer favelado de São Paulo ou Rio de Janeiro se torna coopressor do resto do Brasil.

Por isso já decidi. Anote aí, produção: na próxima encarnação quero nascer na família Barulho, ou Sou Rei, ou Raposão, Já Esteve, Cheiros, Cavalo Canta, Tua Prima, Mexilhões, Viola, Nojeira, Matinho, Vintém, Cágado, Comes, Tu Que Sabes, Palheiros, Mamais, Obscena, Camarão, Vitela, Borrega, Farinha, Deslumbre… São muitas as opções, e deixo à produção a escolha. Não tenho objeção a nenhum estado. Seja qual for, será uma delícia.

Nada como nascer já destinado a ser governador, senador, deputado ou, no mínimo, prefeito de uma capital, ainda que seja num rincão distante do Brasil…

Leia e curta também no WordPress.

Nenhum comentário:

Postar um comentário