Ao chegar a Santarém, Pará, em 2009, tratei logo de transferir meu título
de eleitor para o novo domicílio eleitoral. E já no ano seguinte, 2010, fui
convocado pela Justiça Eleitoral para atuar como mesário nas eleições.
Fui nomeado presidente de uma seção eleitoral numa área distante de
Santarém, no distrito do Lago Grande de Curuai. Partindo da sede do município,
na sexta-feira anterior ao domingo da votação, depois do almoço, navegamos por
cerca de sete horas em B/M (barco a motor ou, como se diz aqui, barco-motor).
Chegamos a uma localidade na margem direita do Amazonas, antes da meia-noite;
ali se atracaram os barcos e dormimos em redes atadas dentro das próprias
embarcações.
No dia seguinte, sábado, véspera da votação, um pouco antes do meio-dia,
depois de viajar horas de ônibus numa estrada de terra (e poeira, muita
poeira!) e em carros ou na garupa de motocicletas por “ramais” que mais parecem
trilhas, chegamos às comunidades onde seriam instaladas as aparelhagens para a
“festa da democracia”!
A historinha para por aqui, pois meu intuito é outro, e vou direto ao
ponto.
Fui presidente de seção ali em 2010 (dois turnos) e 2011 (plebiscito).
Uma das coisas que notei naquela comunidade de ribeirinhos – cuja seção
eleitoral tinha menos de 80 eleitores – foi um uso sui generis (pelo
menos para mim) do verbo amassar com o sentido de “apertar teclas ou
botões” ou, simplesmente, “teclar”.
De fato, vários eleitores ainda mostravam certa dificuldade e falta de
intimidade com equipamentos eletrônicos e seus botões ou teclas, incluindo-se a
urna eletrônica. Durante a votação, os eleitores brincam uns com os outros:
“Não vá AMASSAR errado”, “Não AMASSE errado”, “Não esqueça de AMASSAR o verde”,
“Ih! AMASSOU errado!” etc. Muito curioso esse uso de amassar, num
contexto em que muita gente usa e vê/ouve teclar ou apertar. Uso
apenas local ou comum a outras áreas da Amazônia? Cabe pesquisa sobre o
assunto.
Lembrei disso tudo estes dias porque um jornalista de alta plumagem
acadêmica contou numa TV “news” que uma reforma da previdência deixou de ser
aprovada durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998, 1999-2002) por falta de um único voto. Segundo ele, o
deputado Antônio Kandir (PSDB/SP) se confundiu na hora de usar o sistema de
voto eletrônico e, pensando estar votando SIM, votou NÃO – e a proposta não
passou na Câmara dos Deputados. Que lambança!
Fica o conselho aos tucanos de todas as plumagens: na hora de votar, se
tiverem problemas com os dedos, usem o bico, pois vocês são muito bons nisso.
Mas não AMASSEM o botão errado!
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