quinta-feira, 10 de agosto de 2023

I.A.

Sempre gostei do sistema "pegue, pague e leve" dos supermercados e assemelhados. Não que eu seja contra os balconistas (já fui um) e atendentes das lojas, que são imprescindíveis quando se precisa de atendimento mais pessoal em relação a algum produto específico.
O sistema de balcão é ótimo numa padaria, quando se precisa de 10 pãezinhos e 1 litro de leite, ou num bar, ao se pedir uma cerveja ou rabo de galo. Gosto, porém, de percorrer as prateleiras ou estantes, escolher o produto, ir ao caixa, pagar e ir embora.
Mas é aflitivo entrar numa loja enorme de uma rede em um shopping center, cheia de produtos para o lar, casa e jardim, papelaria etc., e encontrar nela uma única funcionária, que não é vendedora nem caixa e está lá apenas para dar informações e ajudar os clientes a pagar as compras no sistema de autoatendimento: o cliente escolhe o produto, posiciona-o em frente ao leitor de código de barras, põe-no na sacola, escolhe a forma de pagamento, introduz ou encosta o cartão de crédito/débito ou o telefone celular, digita a senha, espera a impressão do comprovante e vai embora.
Os vários caixas da loja estavam vazios, sem vivalma. Quase uma loja-fantasma.
Eis aí em pleno funcionamento essa inteligência artificial de 500 anos chamada capitalismo.
Ela surgiu como parte do código-fonte de um sistema religioso, mas ganhou vida própria e está hoje acima das religiões, mas ao mesmo tempo ao lado, embaixo e dentro delas.
Serviu-se da escravidão (que não inventou, reconheçamos), mas ajudou a extingui-la quando percebeu que era o mais conveniente, pois escravos não são consumidores.
Aceitou dar direitos aos trabalhadores para impedi-los de simpatizar com o comunismo, mas as condições de trabalho pioraram e os direitos caíram por terra quando a ameaça vermelha se desfez no ar.
Agora os próprios empregos rareiam, assassinados pelo avanço tecnológico, enquanto os nerds e outros fanáticos por "tecnologia" idolatram bestamente gente como Jobs, Gates, Zuckerberg e Musk. 
O capitalismo é uma inteligência artificial aparentemente analógica, pois não vive (ainda) em sistemas informáticos: seu único fim é continuar existindo, e para isso ele precisa de hospedeiros, os seres humanos, que usam os recursos, as ferramentas físicas e ideológicas disponíveis, às quais o capitalismo se adapta constantemente. Toda a humanidade é hospedeira do capitalismo, mas apenas parte dela se beneficia disso, vivendo em regime de simbiose... pelo menos enquanto essa simbiose for necessária para o parasita.
Impõe-se uma questão: por que não sacrificar um pouco do lucro para criar mais postos de trabalho e, por conseguinte, mais consumidores? Não seria melhor se mais pessoas trabalhassem, em jornadas de trabalho mais curtas, com tempo para lazer, estudo... e consumo? Mas isso desagrada aos acionistas, beneficiados pela simbiose.
Sem renda não há consumo. Aonde chegaremos no ritmo atual?
Veremos no que dará quando o capitalismo, inteligência artificial analógica, tiver em mãos uma inteligência artificial computacional ilimitada... ou for absorvido por ela.
Será, pela última vez, a vida a imitar a arte.
A SkyNet está logo ali.

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