quarta-feira, 26 de julho de 2017

A Velhice

A VELHICE
Jānis Jaunsudrabiņš (1877–1962)
No rosto de quase todas as pessoas, leio um medo disfarçado da velhice. Então eu também começo a pensar sobre este fantasma e procuro algo com que possa compará-lo. Oh, a velhice é muito diversa:
Vejo-a como nuvens distantes acima de minha cabeça! Elas são silenciosas e imóveis, e meio engastadas no azul-escuro. E quero mandar-lhes um alô.
Vejo-a como a paisagem colorida que espera pela neve com a maior das saudades.
Vejo-a como um cardo seco na encosta de um monte. Ali ele permanece de pé e cintila sob a luz do sol de outono, e o vento carrega seus cabelos brancos para além do monte, além do rio.
Vejo-a como uma floresta nua após a ventania. Ela então se mostra heroica, e eu quero ser assim.
Não, a velhice não é nenhum fantasma. Se nós começássemos a vida pela velhice, nós com toda a certeza temeríamos a infância e a chamaríamos por aquele outro nome.
E o que é então a juventude?
Muitas, muitas vezes nós a vemos como um porquinho que, chafurdando, se enlameou até os olhos, mas continua tendo o rabo enroladinho.
JAUNSUDRABIŅŠ, Jānis. La Maljuneco. Trad. Ko So. Norda Literaturo, Jelgava (Letônia), n. 2, K. Strazds (Ed.), 1934.

Traduzido do letão para o esperanto por Ko So; do esperanto para o português por Júlio César Pedrosa.

Notas:
1- O escritor letão Jānis Jaunsudrabiņš nasceu em Selônia, Letônia, em 25 de agosto de 1877; faleceu em 28 de agosto de 1962, na Alemanha. Mais sobre ele aqui (em letão, francês e outras línguas, mas não em português):
2- Sobre a revista Norda Literaturo (em esperanto):
Santarém, PA, 26/7/2017. Leia e curta também no Wordpress.

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