O velho mestre búdico-gramático ensinava a seus
discípulos, ávidos por sabedoria ancestral linguageira, como encontrar o
caminho que leva à perfeição glotológica. Dizia ele que tal senda parte do
domínio das mais sutis ferramentas idiomáticas, das lexias mais raras e das
morfossintaxes mais inusitadas.
Continuava ele, dizendo que essa perfeição é
palpável e atingível, ainda que localizada num local indefinido no
espaço-tempo. Nesse lugar mítico de contemplação, as letras crescem em
abundância, enchendo os campos sem ser semeadas; árvores carregam-se de poemas
que se declamam por si sós; chovem palavras; topa-se com poetas e filósofos a
cada caminhada; e os livros,
após uma noite de desfrute do prazer da primeira leitura, amanhecem como se
novos fossem, de conteúdo ainda desconhecido, recém-saídos dos prelos e
cheirando a tinta de impressão e couro de encadernação.
Um dos
alunos, mais jovem e afoito que os demais, perguntou-lhe:
"Mestre,
como encontrar o caminho para esse paraíso?"
O mestre
respondeu, pousando o olhar sobre cada um dos alunos:
"Esforçai-vos
pela mestria na difícil técnica da acentuação gráfica, e tereis dado o primeiro
passo no caminho em direção ao Sagrado Nirvana do Diacrítico
Bibliográfico!"
A partir
de então, nenhum dos aprendizes se permitiu errar uma só crase...
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