domingo, 13 de outubro de 2013

Parábola gramático-budista


O velho mestre búdico-gramático ensinava a seus discípulos, ávidos por sabedoria ancestral linguageira, como encontrar o caminho que leva à perfeição glotológica. Dizia ele que tal senda parte do domínio das mais sutis ferramentas idiomáticas, das lexias mais raras e das morfossintaxes mais inusitadas.
Continuava ele, dizendo que essa perfeição é palpável e atingível, ainda que localizada num local indefinido no espaço-tempo. Nesse lugar mítico de contemplação, as letras crescem em abundância, enchendo os campos sem ser semeadas; árvores carregam-se de poemas que se declamam por si sós; chovem palavras; topa-se com poetas e filósofos a cada caminhada; e os livros, após uma noite de desfrute do prazer da primeira leitura, amanhecem como se novos fossem, de conteúdo ainda desconhecido, recém-saídos dos prelos e cheirando a tinta de impressão e couro de encadernação.
Um dos alunos, mais jovem e afoito que os demais, perguntou-lhe:
"Mestre, como encontrar o caminho para esse paraíso?"
O mestre respondeu, pousando o olhar sobre cada um dos alunos:
"Esforçai-vos pela mestria na difícil técnica da acentuação gráfica, e tereis dado o primeiro passo no caminho em direção ao Sagrado Nirvana do Diacrítico Bibliográfico!"
A partir de então, nenhum dos aprendizes se permitiu errar uma só crase...

Nenhum comentário:

Postar um comentário