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D. Pedro II na Abertura da Assembleia Geral. Tela de Pedro Américo. Fonte: Wikipédia. |
Dá-se
o nome acróstico a qualquer composição poética cujas
letras iniciais dos versos, tomadas em sequência, formam uma palavra
ou frase. Trata-se de recurso muito usado, tanto por poetas antigos
quanto por modernos – Camões, como não poderia deixar de ser,
empregou-o também.
Há variedades de acrósticos em que letras do
interior dos versos é que são destacadas das demais no tamanho e/ou
forma; em outros, combinam-se letras do início e do meio dos versos.
As possibilidades são várias.
Mas
o motivo deste texto é outro – ou, mais precisamente, um acróstico
em particular.
O dia 2 de dezembro é o aniversário de D. Pedro II (1825-1891),
último imperador do Brasil. Sua Majestade, ainda que fosse
respeitado por muitos, não deixava obviamente de ter seus desafetos
e detratores, os quais se serviam dos recursos disponíveis para
demonstrar sua insatisfação com a monarquia.
Em
2 de dezembro de 1868, um irreverente poeta desconhecido, sob o
pseudônimo Um Monarquista, conseguiu que um jornal publicasse
o seguinte poema acróstico em “homenagem” ao monarca tupiniquim:
Ó
excelso monarca, eu vos saúdo!
Bem
como vos saúda o mundo inteiro,
O
mundo, que conhece as vossas glórias...
Brasileiros,
erguei-vos e de um brado
O
monarca saudai, com hinos!
Do
dia de dezembro o dono faustoso,
O
dia que nos trouxe mil venturas!
Ribomba
ao nascer d'alva a artilharia
E
parece dizer em tom festivo
Império
do Brasil, cantai, cantai!
Festival
harmonia reine em todos;
As
glórias do monarca, as sãs virtudes
Zelemos,
decantando-as sem cessar.
A
excelsa Imperatriz, a mãe dos pobres,
Não
olvidemos também de festejar
Neste
dia imortal, e que é fecundo,
O
dia venturoso em que nascera,
Sempre
grande e imortal, Pedro II.
Vê-se
que as letras iniciais dos versos permitem ler, de cima para baixo, a
frase O BOBO DO REI FAZ ANNOS – note-se que, à época, a
palavra ano era, por motivos etimológicos, grafada com dois
enes (por ser proveniente do latim annus, -i).
Segundo Wagner Ribeiro*, o poema causou escândalo, sensação, “sobretudo por ter sido publicado no Jornal do Comércio, sempre governista”. Talvez por isso, apenas, não pela própria composição.
Pois é... Naquela época os recursos eram mais escassos, fazer crítica política era mais difícil e perigoso, mas sempre se arrumava um jeitinho de cutucar os poderosos!
* RIBEIRO, Wagner. Antologia Luso-Brasileira. 12. ed. São Paulo: FTD, [circa 1965], página 26.
Segundo Wagner Ribeiro*, o poema causou escândalo, sensação, “sobretudo por ter sido publicado no Jornal do Comércio, sempre governista”. Talvez por isso, apenas, não pela própria composição.
Pois é... Naquela época os recursos eram mais escassos, fazer crítica política era mais difícil e perigoso, mas sempre se arrumava um jeitinho de cutucar os poderosos!
* RIBEIRO, Wagner. Antologia Luso-Brasileira. 12. ed. São Paulo: FTD, [circa 1965], página 26.
Santarém, Pará, 2/12/2014. Editado em 14/12/2015.