sexta-feira, 26 de junho de 2020

Discurso progressista

As pessoas que se consideram progressistas, que são a favor da defesa dos direitos humanos, que acreditam ser possível atingirmos uma sociedade mais justa e menos desigual, mais inclusiva e diversa culturalmente, precisam urgentemente rever seus conceitos, repensar seus métodos ou, ao menos, ajustar seu discurso.

Explico-me.

Quando certas pessoas ouvem falar em união civil de pessoas do mesmo sexo — popularmente conhecida como “casamento gay” —, elas logo imaginam o padre ou pastor de sua igreja sendo obrigado, pela lei, a realizar o casamento de dois homens, um deles com enorme bigode, véu e grinalda, ou de duas mulheres de terno e gravata.

Nós sabemos que não se trata de nada disso, não é essa a união civil que se almeja, e o Estado não deve intrometer-se nos assuntos das religiões ainda que estas se intrometam indevidamente nas instituições republicanas. Mas muitas pessoas não compreendem que o ser humano merece o direito de constituir família fora do heterossexualismo, e ficam horrorizadas diante disso, e não pensam duas vezes antes de apoiar candidatos que prometam impedir propostas que consideram “contra as leis divinas ou naturais”.

Assim, é preciso esclarecer o que é a união civil de pessoas do mesmo sexo.

Da mesma forma, quando se condena a cultura do encarceramento, quando se protesta contra as prisões, quando se pedem penas alternativas ou mais humanas, o autodeclarado “cidadão de bem” logo pensa que se trata de extinguir a pena de prisão. O vulgo encara a justiça como uma espécie de vingança, resquício do tempo em que os condenados eram executados em público, com requintes de crueldade, como nos suplícios da roda, do esquartejamento a guilhotina, justiça (?!) seja feita, foi um avanço humanitário, quando comparada com os métodos de execução anteriores, pois matava instantaneamente…

Assim, sem cadeia ou prisão, sem penitenciária ou casa de detenção, sem presídio ou cárcere, sem xadrez ou xilindró, o cidadão comum, o povão fica apavorado diante da possibilidade de que se começará a delinquir e cometer crimes à vontade, sem nenhum tipo de punição… e sabemos quem se beneficia com os votos dos cidadãos revoltados com a “impunidade”.

Não se trata, portanto de deixar de punir os criminosos, mas de tornar mais humanos os procedimentos penais.

Por fim, quando certas pessoas ouvem manifestantes a pedir a extinção da polícia…

Sim, as pessoas que se consideram progressistas precisam urgentemente ajustar seu discurso.


Santarém, PA, 26 de  junho de 2020. (Leia e curta também no Wordpress.)

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