terça-feira, 21 de agosto de 2012

Altamiro Carrilho, que saudade!



“Quando olhar para um músico, olhe com carinho.”
Altamiro Carrilho (1924-2012)

Há poucos dias, em 15 de agosto, faleceu, aos 87 anos, Altamiro Carrilho, um dos maiores compositores e músicos do Brasil. E também um de nossos maiores chorões, pois dedicou toda a sua vida ao choro ou chorinho, ritmo brasileiro muito estimado no exterior, mas ainda tão pouco apreciado pelos próprios brasileiros. Tenho um disco de Altamiro Carrilho e seu Regional, Os Maiores Choros do Século – que estou ouvindo agora, diga-se de passagem –, e me acho sortudo por isso, pois ouvi-lo tocar suas composições ou as de outros autores é um privilégio que não tem paga.


Não conheço nada de música, aliás sou leiguíssimo nisso, mas tenho a seguinte opinião, ou, mais precisamente, impressão: o chorinho é o ponto mais alto de nossa música, de nossa cultura musical, pois nele se contém a síntese de nossas origens históricas e culturais; é ao mesmo tempo popular e erudito. Popular, por motivos óbvios, devido a suas origens, o uso de instrumentos musicais mais populares, a temática ligada à cultura popular e ao cotidiano, a qual se traduz, por exemplo, nos nomes dos choros, como André de Sapato NovoUrubu Malandro ou Tico-tico no Fubá; é erudito também pelos instrumentos, a harmonia entre as cordas e a percussão leve, a presença dos metais e dos instrumentos de sopro, como a flauta que consagrou Altamiro... Um programa composto só de chorinhos – Bem-te-vi Atrevido, Harmonia Selvagem, Odeon, Espinha de Bacalhau, Um a Zero, Carinhoso, Lamento, Brasileirinho e muitos outros mais – poderia ser apresentado por qualquer grande orquestra, seja a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – OSESP ou a Orquestra Filarmônica Real de Londres (Royal Philarmonic Orchestra), e isso agradaria ao público em qualquer ponto do globo, levantando multidões.
No último domingo, dia 19, à noite, a TV Cultura de São Paulo reapresentou um programa da série Ensaio com Altamiro Carrilho, em que ele apresentou várias de suas composições e sucessos, além de contar algumas histórias de sua vida. Este era um lado pouco conhecido dele, pelo menos para mim: Altamiro era um grande contador de histórias, e como é gostoso ouvi-lo contá-las! Entre as histórias que contou, está a do choro Lamento de Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana Filho, 1897-1973). Segundo Altamiro, o grande compositor e seu grupo deviam apresentar-se num teatro e ao chegar foram impedidos de entrar pela porta da frente, pelo porteiro, que seguia ordens da gerência: “Negros só podem entrar pelos fundos”. Pixinguinha não criou caso e deu a volta ao prédio, entrando pela porta dos fundos. Após saber do ocorrido e de quem se tratava, o gerente e o porteiro foram pedir-lhe desculpas; Pixinguinha disse que lamentava o ocorrido e os perdoou; o lamentável episódio deu-lhe a inspiração para compor o famoso choro, que anos mais tarde recebeu letra de Vinícius de Morais.
No Ensaio, Carrilho homenageia vários músicos e compositores, num preito de gratidão: Pixinguinha, Benedito Lacerda, Garoto, Carlos Poyares e outros. Também fez um apelo pela valorização dos músicos: “Tocar um instrumento musical é difícil, leva anos de estudo. Por isso, quando olhar para um músico, olhe com carinho”. Sábias palavras!
Mas Altamiro se foi. Vá em paz, Altamiro Carrilho! Continue a tocar nas altas esferas! Nós lhe renderemos a justa homenagem que se deve a todo artista: prestigiar sua obra!

Este texto foi produzido e postado por meio de softwares livres: sistema operacional Linux Mint 13 Maya LTS; processador de texto LibreOffice 3.5.3.2; navegador de Internet Mozilla Firefox 13.0.1.
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