“Quando olhar para um músico, olhe com carinho.”
Altamiro Carrilho (1924-2012)
Há poucos dias, em 15 de agosto, faleceu, aos 87
anos, Altamiro Carrilho, um dos
maiores compositores e músicos do Brasil. E também um de nossos maiores chorões,
pois dedicou toda a sua vida ao choro
ou chorinho, ritmo brasileiro muito
estimado no exterior, mas ainda tão pouco apreciado pelos próprios brasileiros.
Tenho um disco de Altamiro Carrilho e seu Regional, Os Maiores Choros do Século – que estou ouvindo agora, diga-se de
passagem –, e me acho sortudo por isso, pois ouvi-lo tocar suas
composições ou as de outros autores é um privilégio que não tem paga.
Não conheço nada de música, aliás sou leiguíssimo
nisso, mas tenho a seguinte opinião, ou, mais precisamente, impressão: o
chorinho é o ponto mais alto de nossa música, de nossa cultura musical, pois
nele se contém a síntese de nossas origens históricas e culturais; é ao mesmo
tempo popular e erudito. Popular, por motivos óbvios, devido a suas origens, o
uso de instrumentos musicais mais populares, a temática ligada à cultura popular e ao cotidiano, a
qual se traduz, por exemplo, nos nomes dos choros, como André de Sapato Novo, Urubu Malandro ou Tico-tico
no Fubá; é erudito também pelos instrumentos, a harmonia entre as cordas e
a percussão leve, a presença dos metais e dos instrumentos de sopro, como a
flauta que consagrou Altamiro... Um programa composto só de chorinhos – Bem-te-vi Atrevido, Harmonia Selvagem, Odeon,
Espinha de Bacalhau, Um a Zero, Carinhoso, Lamento, Brasileirinho e muitos
outros mais – poderia ser apresentado por qualquer grande orquestra, seja a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo –
OSESP ou a Orquestra Filarmônica Real de Londres (Royal Philarmonic Orchestra), e isso
agradaria ao público em qualquer ponto do globo, levantando multidões.
No último domingo, dia 19, à noite, a TV Cultura
de São Paulo reapresentou um programa da série Ensaio com Altamiro
Carrilho, em que ele apresentou várias de suas composições e sucessos, além de
contar algumas histórias de sua vida. Este era um lado pouco conhecido dele,
pelo menos para mim: Altamiro era um grande contador de histórias, e como é gostoso
ouvi-lo contá-las! Entre as histórias que contou, está a do choro Lamento de Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana Filho, 1897-1973). Segundo
Altamiro, o grande compositor e seu grupo deviam apresentar-se num teatro e ao
chegar foram impedidos de entrar pela porta da frente, pelo porteiro, que
seguia ordens da gerência: “Negros só podem entrar pelos fundos”. Pixinguinha não
criou caso e deu a volta ao prédio, entrando pela porta dos fundos. Após saber
do ocorrido e de quem se tratava, o gerente e o porteiro foram pedir-lhe
desculpas; Pixinguinha disse que lamentava o ocorrido e os perdoou; o
lamentável episódio deu-lhe a inspiração para compor o famoso choro, que anos
mais tarde recebeu letra de Vinícius de Morais.
No Ensaio, Carrilho homenageia vários
músicos e compositores, num preito de gratidão: Pixinguinha, Benedito Lacerda, Garoto, Carlos Poyares e
outros. Também fez um apelo pela valorização dos músicos: “Tocar um instrumento
musical é difícil, leva anos de estudo. Por isso, quando olhar para um músico,
olhe com carinho”. Sábias palavras!
Mas Altamiro se foi. Vá em paz, Altamiro Carrilho!
Continue a tocar nas altas esferas! Nós lhe renderemos a justa homenagem que se
deve a todo artista: prestigiar sua obra!
Este texto foi produzido e postado por meio de softwares livres: sistema operacional Linux Mint 13 Maya LTS; processador de texto LibreOffice 3.5.3.2; navegador de Internet Mozilla Firefox 13.0.1.
Conheça, prestigie, divulgue o software livre.
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